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Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Na sala de espera do hospital está uma mulher de máscara e lenço de cornucópias na cabeça sentada à minha frente. Ao lado dela, um miúdo dos seus nove, dez anos. O miúdo enfia as mãos nos bolsos enquanto espera que o chamem para a pediatria. A mulher recosta um pouco a cabeça e fecha os olhos. O bebé da rapariga com unhas de gel azuis começa a choramingar e ela levanta-se para o embalar. Penso que essa rapariga não deva ser muito mais velha que a minha filha. Terá quantos? Dezassete? Dezoito anos? Chamam alguém pelo intercomunicador e a mulher do lenço de cornucópias levanta-se com o miúdo pela mão. O bebé da rapariga das unhas de gel continua a choramingar e ela tenta distraí-lo com qualquer coisa na janela enquanto lhe dá beijos na testa. Um homem tira uma garrafa de água da máquina. Chamam um João Manuel, uma Maria da Luz, um Martim, uma Elsa Cristina, um Joaquim com um nome e apelido que ninguém percebe. Entre os nomes vejo as horas no telemóvel. Abro um e-mail. Uma pessoa aqui demora uma eternidade, diz uma mulher de cabelo muito curto e muito branco. Há alguém que concorda com ela. A mulher de lenço de cornucópias volta, pela porta dupla, com o miúdo pela mão. Mas antes, volta-se para as pessoas da sala de espera e diz no que me pareceu ser um suspiro: as melhoras. Foi a única que o disse.
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