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Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Voltávamos juntos no mesmo autocarro. Falávamos do sentido da vida ou do sentido que ela nos fazia aos vinte. Por vezes instalava-se aquele silêncio desconfortável de fim de assunto e de não saber o que se dizer. E eu tentava quebrar o constrangimento com conversa avulsa e trivial, daquela sem interesse nenhum, que só serve para preencher buracos. Um dia, esse meu amigo disse-me, não fales, vamos agora os dois calados. Espantada, perguntei-lhe: mas não achas esquisito irmos os dois calados o resto do caminho? Ele sorriu-me, não, pelo contrário. Se formos os dois, sentados ao lado um do outro, calados, sem nos sentirmos mal, é sinal que temos uma grande cumplicidade. O silêncio é um privilégio dos cúmplices. Passámos no teste, e continuámos a tentar descobrir o sentido da vida nas viagens entre Santo Amaro e Miraflores. Não descobrimos, mas tornámo-nos amigos cúmplices, sem medo do silêncio. Lembro-me disto sempre que alguém fica constrangido pela falta de conversa e insiste no serrar de serradura.
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