O pai-Estado
Somos o país da intervenção estatal, da legislação. Se usam mal os pesticidas na agricultura, faz-se uma lei para não haver abusos. Se na restauração a rebaldaria é total em termos de higiene, faz-se uma lei para limparem o estabelecimento. Se continua a não haver respeito por quem tem deficiência, fazem-se leis para obrigar a respeitá-los. Se os partidos políticos continuam a ignorar o mérito das mulheres que neles participam, cria-se uma lei de quotas. Claro que têm de haver leis reguladoras. Acredito que o Estado tem a obrigação de proteger os seus cidadãos, daí muitas vezes achar que estas leis são um mal necessário para que a sociedade evolua, avance. Mas não deixo de ficar apreensiva a pensar que não há maneira de nos tornarmos um país crescidinho, capaz de distinguir o certo do errado sem a mãozinha castigadora do pai-estado. Um país onde, por exemplo, livros sexistas simplesmente não vendam, ou nem sequer faça sentido que sejam publicados, porque os pais sabem que comprá-los só perpetua a descriminação a que são sujeitas as suas filhas. Um país onde não tivesse de haver um “ralhete” do estado a uma editora para retirar uma edição cretina e dessa forma ensinar os seus cidadãos o que comprar e como educar os seus filhos. Isso sim seria um país crescidinho.
(E escusam de vir com tangas e calhoadas para os comentários, porque se há mulher que luta contra a discriminação de género e sem ser só nas redes sociais, mesmo a dar o litro e a cara na vida real, sou eu.)