Não me habituo
Passo quatro meses a tentar habituar-me às noites maiores. Perante os meus lamentos dizem-me, é assim todos os anos, já devias estar habituada. Mas não me habituo. Todos os anos é o mesmo desconforto, a mesma melancolia e, desconfio, uma inexplicável desilusão.
Ontem, contaram-me mais uma história de discriminação. Que não foi por causa da cor da pele, nem da nacionalidade, nem do género da pessoa que a sofreu. Foi por causa do estrato social a que essa pessoa pertence. Das suas origens. Por não querer parecer aquilo que não é. Uma pessoa com capacidade de trabalho e com talento, impedida de progredir por não corresponder ao estereótipo de um grupo social.
Dizem-me, o mundo é assim, sempre houve elites que trancam as portas aos que consideram ser menos, já devias estar habituada. Mas não me habituo. Sempre que me confronto com isto é o mesmo desconforto, a mesma melancolia e, desconfio, uma inexplicável desilusão.