Ir a tempo
Devo ter visto o pai da Patrícia umas duas ou três vezes. Vinha às festas de anos, mas ficava à porta. Quem o recebia era a avó da Patrícia, que a chamava, Patricinha tens aqui o pai. A mãe da Patrícia ia fumar para a marquise e a madrasta ficava no carro. Só o pai e os irmãos pequenos é que apareciam. A avó convidava-o por cortesia a ficar para o apagar das velas e ele por cortesia recusava e dizia para a filha, depois apagas as velas em casa do pai.
A madrasta da Patrícia foi a minha professora de matemática do 12º ano. Graças a ela safei-me na prova específica. Um dia, chamou-me no fim da aula e perguntou-me, porque é que não foste para humanísticas? Respondi-lhe que também gostava de ciências, que tinha melhores saídas profissionais. E depois suspirei e disse, e já não vou a tempo de mudar. E ela disse-me, és tão novinha e vamos sempre a tempo de ser felizes. E eu quis dizer-lhe que sabia quem ela era, que a vira uma vez da janela do quarto da avó da Patrícia, dentro do carro a fumar um cigarro, talvez da mesma marca do que a mãe da Patrícia fumava na marquise. As duas à espera de irem a tempo de ser felizes