Carneiros e cigarras
Uma vez, no livro da 3ª classe, lemos um texto sobre um menino que não conseguia dormir. O menino experimentava uma série de coisas que a mãe lhe sugeria, mas o sono não vinha. A última sugestão que a mãe lhe deu foi que contasse carneiros. Mas, enquanto contava carneiros, o menino começou a ouvir as cigarras* e outros sons da noite. Adormeceu. Tal como em todos os textos tínhamos de responder a perguntas de interpretação. Uma delas era: O que é que fez com que o menino adormecesse? E eu respondi: o som da cigarra e a noite a chegar. A minha professora disse que a resposta estava errada, que não era nada disso, que o menino tinha adormecido por contar carneiros. Eu achei que ela não estava a ver bem o filme, e dessa vez disse, alto e bom som: não acho. E expliquei porquê. Com alguma paciência a minha professora lá tentou explicar o porquê dela. E perguntou-me, percebeste agora? E eu respondi baixinho, percebi, mas continuo a achar que foram as cigarras. Nunca soube se tinha razão. E sinceramente nem é isso que interessa desta história toda. Aliás, raramente o ter razão é o que mais me interessa em qualquer história. O que me interessa é tentar perceber porque é que onde uns vêem carneiros outros só ouvem cigarras. Isso sim, vale a pena.
*que afinal deviam ser ralos ou grilos