Cafeteira italiana
Faço mais um café na cafeteira italiana. Deixámos a máquina de cápsulas há algum tempo por causa do lixo que fazia. Quando quero um café forte vou à rua. Mas a pandemia trocou-me as voltas e durante o tempo em que estivemos confinados não tive outro remédio senão habituar-me a este café mais liquefeito e sem espuma. Passo os olhos pelo Facebook. Este "scroll" do meio da manhã é o abrir do estore que me falta. Faço alguns "likes", nenhum comentário. A olhar pelo meu “feed” parece que estamos na pasmaceira de Agosto, mas sem as fotografias da praia e das férias que têm de parecer absolutamente felizes. Estas foram substituídas por notícias sobre a pandemia e sobre a crise, por posts sobre medo, receio, cansaço e claustrofobia e algumas fotografias sobre o alívio do desconfinamento. Também há mais murais em silêncio, como se tivessem ido para fora. Eu própria não tenho grande vontade de escrever alguma coisa. A incerteza é um vazio sem grande material de escrita. A cafeteira gorgoleja, apago o lume e sirvo o café numa chávena pequenina. Sabe-me bem o silêncio. Fecho o Facebook. Não há Verão que não passe.