A Greta e os cestos de pão e peixe.
Acho engraçada esta divisão entre os que gostam da Greta e os que não gostam da Greta. Tipo gostar ou não de cozido. Por estas redes sociais acima ( ou abaixo) as paixões dividem-se entre o bota-abaixismo fatela contra a miúda e a sua sacralização com um piquinho a Sãozinha de Alenquer. A Greta tem 16 anos. Tal como todos nós já tivemos 16 anos. Uns com mais sangue na guelra do que outros. Com mais convicções do que outros. Com boas intenções ou nem por isso. A Greta faz-nos pensar, caraças, eu com a idade dela o mais radical que fazia era dizer mal do Cavaco. Ou mandar vir contra a comida da cantina. E mesmo agora, com mais uns anos em cima, a coisa fica-se por umas bocas por aqui, uns #hashtags e uns perfis lindinhos “por qualquer coisa” comigo a fazer pose para a selfie. A miúda tem espírito, mexe-se, levanta o rabo por aquilo que acredita. Quantos de nós fomos assim? Pois. Foi o que eu calculei.
Mas (vocês sabiam que havia um mas) o problema da Greta não é a Greta, é a algazarra à volta da Greta. O problema da Greta é o vazio cívico ser tão grande que o pessoal se agarra a algo que supostamente uma miúda de 16 anos representa, como se não houvesse amanhã, como se não tivesse mais nada. Ou como se tivesse apenas cestas vazias de pão e peixe, à espera que façam a multiplicação por eles (ou do que há-de vir). Para além disso, tem um certo lado perverso, um certo sacudir a água do capote, do “ah, isto agora só as novas gerações é que podem dar a volta isto, que nós já não temos estaleca”. Isto, sim, é o que me agasta no tema Greta. Só que disto a Greta não tem culpa nenhuma.
Podem engalfinhar-se à vontade que não é o gostar ou não gostar da Greta que nos vai encher as cestas. É o perguntar: o que é que eu já fiz hoje para que isto mude? E, já agora, o que é que fizeram?