Buganvília
A caminho do café há uma casa com uma grande buganvília fúchsia. As buganvílias, especialmente as desta cor, são plantas belíssimas. Ao contrário do que muita gente pensa, não são as flores que lhes dão aquela cor exuberante, mas sim as brácteas, que servem para proteger as flores pequeninas, nas quais quase ninguém repara. Observo-a com um bocadinho mais de atenção. É realmente formidável, tapa quase toda a parede azul que dá para a rua, sobrando apenas as janelas, rasgadas até ao chão, onde a dona da casa costuma estar a ver quem passa, pensando, talvez, que os cortinados de renda branca a conseguem esconder. Conheço-a de vista, costuma ir ao mesmo café do que eu, e, embora fale de pessoas que eu não conheço, percebo que as maldiz, e com um certo gosto. Embirro com muita coisa na vida, mas não embirro com pessoas que dizem mal das outras. Eu também o faço. Convenhamos que a má-língua tem uma certa utilidade na nossa saúde mental: não só entretém bastante, e bem sabemos não há nada pior para os nervos do que o ócio, como tem propriedades analgésicas, pois enquanto andamos a embirrar com os outros não nos lembramos da grande merda que somos.