Reparo que a aberta da lagoa está mais ampla, nos vultos dos pescadores ao fundo, na família com as crianças mascaradas, no outro lado da rua, no casal de velhos, sentados de mãos dada no murete, no homem de blusão de cabedal, a ler ao meu lado e com o capacete pousado numa das cadeiras. Uma das crianças mascaradas (vestida de Elsa do Frozen) afasta-se, corre pelo passeio, tentando levantar as serpentinas no ar, não te afastes, grita-lhe a mãe, os velhos sentados no murete riem-se ao ver a miúda correr, o homem ao meu lado também ouve e levanta os olhos do livro e sorri (tenho a certeza que sorriu apesar de não lhe conseguir ver o rosto), os pescadores ao fundo certamente nunca darão por ela, anda cá, não te afastes, a mãe a gritar-lhe com a mão em pala por cima dos olhos e em vez do um café cheio que pedi o empregado traz-me a chávena quase vazia. Penso em mandá-lo para trás, pedir que encha mais a chávena, como tantas vezes faço, mas hoje não, estou distraída a ver a miúda mascarada de Elsa do Frozen, mas, talvez se chamasse à atenção do empregado, um rapaz novo, muito magro, ainda cheio de borbulhas púberes, ele também reparasse nas serpentinas da miúda mascarada de Elsa do Frozen, que finalmente esvoaçam ao vento, talvez agora os pescadores lá o fundo reparassem nas serpentinas no ar, os velhos do muro ainda se rissem mais e o homem ao meu lado pousasse o livro. Mas não digo nada, deixo estar o café mesmo assim, a miúda volta para perto da mãe, os velhos alheam-se de novo, o homem ao meu lado volta à leitura e tudo se esquece.