Cheiro a pão e bolos
Houve um Verão em que fomos de férias com primos. Eu, do alto dos meus catorze anos, cheios de inseguranças e certezas, era a mais velha dos mais novos. Desse Verão lembro-me das tardes na praia, esticadas ao limite, quase, quase a anoitecer, só mais um bocadinho, vá lá, dos baldes cheios de conquilhas, das filas para tudo, do ir comer camarão e caramelos a Espanha, das noites quentes a arderem no escaldão dos ombros, do cheiro a óleo de coco e a creme Nívea, da vez em que tentamos indrominar os pais e nos escondemos para ficarmos a pé até tarde, não conseguimos, das conversas parvas pela noite dentro, com a música dos arraiais em pano de fundo, e do cheiro a pão e bolos assim que abríamos a janela de manhã. A casa ficava ao lado de uma padaria. Hoje, enquanto bebia café cheirou-me a pão e bolos e deu-me ideia que um dos meus primos me arreliava, ali, por cima do ombro. O tempo tem esta mania de, a despropósito, nos parecer logo ali ao lado.